O Stanley Center for Peace and Security em parceria com a Chatham House’s Hoffmann Centre for Sustainable Resource Economy realizou, ao longo do mês de Setembro, o workshop “Sustainable Lifestyles and Consumption: International Action in this Moment of Crisis”.
Uma série de especialistas globais foram convidados a trazer suas reflexões sobre os impactos dos padrões de consumo atuais e quais estratégias podem ser tomadas para sensibilizar os tomadores de decisão a proporem políticas públicas que promovam mudanças de hábitos, comportamento e estilo de vida, dentro de um cenário que sustente um aumento não superior a 1.5º de temperatura global. A Mónica Guerra, nossa diretora, foi convidada a participar e contribuir com ideias e experiências existentes de políticas públicas com enfoque em estilos de vida mais sustentáveis, relacionando com os sistemas alimentares e com reflexões a respeito dos principais desafios enfrentados. Separamos algumas das reflexões finais, trazidas como síntese pelo grupo, refletindo nas dificuldades e caminhos possíveis para sensibilizar os tomadores de decisão a perceber a relevância do desenho de políticas públicas com foco nos comportamentos de consumo e estilo de vida dos cidadãos:
Toda a conversa sobre mudanças climáticas pode parecer entediante para o senso comum, porque a população não se identifica diretamente com o tema.
O debate sobre recuperação verde pós-pandemia trouxe à tona a preocupação com o meio ambiente, à medida que as pessoas puderam perceber melhor o impacto das mudanças climáticas diretamente em suas vidas. O contexto atual pode permitir um aumento do engajamento na discussão, e por isso é importante seguir trazendo a questão do aquecimento global quando é abordada a recuperação pós-pandemia.
O storytelling se apresenta como uma forma eficaz de gerar engajamento e identificação, de informar e sensibilizar os cidadãos - a construção de narrativas é fundamental ao permitir olhar para o aquecimento global a partir da influência e impacto na vida de cada um.
1. A importância de considerar os contextos locais.
Quando os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) são abordados e apresentados, é importante identificar as diferentes ambições com base em cada contexto - países diferentes têm cenários diferentes e terão, naturalmente, níveis de ambição diferentes. As ações definidas como “low ambition” (pouco ambiciosas) usualmente são mais rápidas de atingir, mas até essa definição irá depender do contexto político, social, econômico e cultural de cada nação. O global sempre se implementa no local, e o local sempre influencia no global, e essa consciência é crucial para avançar na discussão.
2. Criação de contextos facilitadores para aumentar a liberdade de escolhas.
As mudanças no estilo de vida dos indivíduos têm alto impacto no desenvolvimento sustentável e as mudanças climáticas. Contudo, é importante pensar em “enabling contexts”, ou contextos facilitadores - é importante mudar o contexto no qual o indivíduo está inserido para um contexto que realmente permita e encoraje as mudanças “individuais” em seu estilo de vida e estas se tornem escolhas mais espontâneas e atrativas.
Um exemplo disso é a imposição (necessária) do uso de máscaras durante a pandemia de coronavírus, muitas pessoas apresentaram resistência apenas por sentirem que a sua liberdade estava sendo ameaçada.
A liberdade de escolher um estilo de vida mais sustentável, por este ser realmente mais atrativo e possível, exige que cada um se sinta motivado e tocado a se transformar. Obrigar a mudança cria resistência e impede uma transformação de longo prazo e permanente. Neste quesito, podemos resgatar mais uma vez a importância do storytelling - precisamos nos perguntar de quais ações cada grupo social deseja fazer parte, quais assuntos têm mais capacidade de mobilização. A mesma pessoa pode não sentir interesse em mudar a forma de construção de sua casa, mas estar muito interessada em mudar o impacto da forma como se movimenta pela cidade, por exemplo. Por isso, a existência de contextos facilitadores para que diferentes caminhos e escolhas rumo a um estilo de vida mais sustentável co-existam é muito importante.
3. A importância do envolvimento do setor privado.
Ao mesmo tempo que a indústria de produção de alimentos é a que gera mais impacto na mudança climática (no contexto do impacto relacionado à alimentação), é a que mais se beneficia, em termos de reputação - e, consequentemente, lucro - quando demonstra preocupação com o tema.
O fortalecimento da relação entre consumidores, formuladores de políticas públicas e representantes do setor privado, de forma transparente, é importante para transformar estilos de vida. Formuladores de políticas públicas podem, por exemplo, incentivar outros modelos de negócio nas empresas, criar contextos para mudanças nos estilos de vida dos indivíduos e promover mudanças voltadas para a economia circular e sustentável.
4. Persistência e resiliência.
É importante persistir na construção de um imaginário de futuro diferente, por mais distante que ele pareça, onde tenhamos diferentes níveis de desenvolvimento (considerando contextos locais) dentro de um objetivo comum e de forma interdependente e complementar.
A narrativa deve ser multifocal, trazendo com clareza o quanto que uma mudança de estilo de vida tem resultados positivos não apenas para o planeta e as gerações futuras, mas que tem impactos diretos no bem estar de cada um desde já, no presente, com reflexos na saúde, qualidade de vida e na situação financeira e econômica de todos.
Confira o site da Instituição Stanley Center for Peace and Security com informações acerca do workshop e acompanhe os projetos realizados. https://stanleycenter.org/events/sustainable-lifestyles-and-consumption/
Em breve, será lançado o relatório do workshop de 2020, mas você pode conferir desde já a publicação de 2018, “Shifting to Sustainable Consumption for 1.5°C: Gaps, Solutions, and New Policy Agendas” disponível aqui.
O que comemos muda o mundo!
(Uma escolha por vez).
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